A GUERRA QUE NUNCA TERMINOU: A QUEDA, O LEVANTAR E O FIM DO INIMAGINÁVEL
Antes que houvesse forma ou vazio, quando a existência ainda repousava no silêncio absoluto do "não-ser", houve um som. Não um som como conhecemos, mas uma vibração cósmica — a primeira Palavra. Deus falou, e daquilo que era nada, surgiu o Tudo. Criou-se o Trono, e à Sua volta os sete Espíritos de Deus ardiam em eternas chamas. Os anjos foram formados — bilhões deles, distintos em glória, poder e função. Dentre todos, quatro eram os mais elevados: Miguel, o Arcanjo da Guerra; Gabriel, o Arauto da Revelação; Rafael, o Curador dos Universos; e Uriel, o Guardião da Justiça Cósmica.
E então houve outro: Lúcifer.
O Primeiro Cisma Celestial
Lúcifer não era uma simples criatura. Ele era o selo da perfeição, cheio de sabedoria e formosura (Ezequiel 28:12-14). Sua música sustentava a harmonia do cosmos. Suas vestes brilhavam com pedras preciosas eternas, e sua voz moldava atmosferas inteiras. Mas um pensamento emergiu em sua essência: "E se eu pudesse ser como o Altíssimo?" (Isaías 14:14). Não foi um grito, foi um suspiro — suficiente para distorcer as notas da eternidade.
Com ele, um terço dos anjos ressoaram esse pensamento. Não em rebeldia violenta, mas como uma ideia sutil que contaminou as hostes celestes. Então, houve silêncio nos céus por cerca de meia hora (Apocalipse 8:1). E quando o silêncio cessou, houve guerra.
As Forças Celestiais e Abissais
Miguel, montado sobre uma criatura de quatro faces (leão, boi, homem e águia — Ezequiel 1:10), com uma espada feita da palavra do próprio Deus, conduzia legiões de seres que jamais foram vistos pela humanidade — anjos que se movem com a velocidade do pensamento, cujos corpos são feitos de chamas conscientes.
Gabriel abriu os livros eternos. De sua voz saíam trombetas que faziam estrelas caírem dos céus. Cada palavra sua selava destinos. Rafael, com asas cobertas de olhos, curava com seu toque até realidades quebradas. Uriel, o terrível, empunhava um martelo de juízo que reverberava em todos os planos de existência.
Do outro lado, Lúcifer já não brilhava com luz, mas com fogo negro. Seus olhos não refletiam o céu, mas o abismo. Ao seu lado estavam os Tronos Corrompidos, os Dominadores das Sombras, os Espíritos do Ar e das Profundezas, e os Nefilim Recaídos — gigantes cuja carne era feita de memórias esquecidas, devoradores do tempo e da razão.
A Batalha que Rachou o Firmamento
Quando Miguel lançou sua investida (Apocalipse 12:7), os céus tremularam. Constelações inteiras desapareceram. O tempo curvou-se em nós. O Trono de Deus permaneceu imóvel, mas toda criação estremeceu.
Espadas que cortavam não carne, mas essência. Seres que se multiplicavam ao morrer, criando novas formas de luta. Coros celestiais que entoavam salmos com poder destrutivo. E, no centro de tudo, o Dragão Vermelho, com sete cabeças e dez chifres (Apocalipse 12:3), rugia com vozes que partiam montanhas.
Lúcifer invocou a Lembrança do Caos Primordial — uma entidade que precedia até mesmo o Éden. Mas Miguel brandiu o Nome Secreto de Deus, e o véu foi rasgado. Lúcifer foi lançado à terra, não em um lugar físico, mas em um plano de decadência onde ele reinaria como Príncipe das Potestades do Ar (Efésios 2:2).
A Terra: O Novo Campo de Batalha
Foi então que Deus formou o homem. Primeiro, Lilith — espírito igual em força a Adão, feita da mesma terra. Mas ela recusou obedecer. Fugiu, e nas trevas foi seduzida pela voz de Lúcifer. De sua união nasceram entidades híbridas, invisíveis à carne, mas ativas nas vontades humanas.
Eva foi então criada. O Éden foi guardado por querubins com espadas flamejantes (Gênesis 3:24), pois a Terra já estava sitiada — palco de uma guerra invisível.
O Que Ainda Está por Vir
As Escrituras sussurram mais do que revelam. Mas está escrito que virá um tempo em que os quatro anjos presos junto ao grande rio Eufrates serão soltos para matar a terça parte da humanidade (Apocalipse 9:14-15). Que o Abismo será aberto, e dele sairão criaturas como gafanhotos com rostos humanos e caudas de escorpiões (Apocalipse 9:2-10).
O próprio Lúcifer virá com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo (Apocalipse 12:12). E as estrelas do céu cairão sobre a terra como figos verdes lançados por forte vento (Apocalipse 6:13). Então, Miguel se levantará mais uma vez (Daniel 12:1).
Mas o fim não é destruição. É restauração.
"E vi um novo céu e uma nova terra..." (Apocalipse 21:1). A cidade descerá dos céus, e Deus habitará com os homens. O tempo será consumado, e a guerra findará, não por destruição, mas pela vitória do amor eterno.


Nenhum comentário:
Postar um comentário