Ela era vista como uma promessa nos bastidores do poder. Formada em Direito pela tradicional PUC-SP, Denise Maria Ayres Abreu parecia destinada a grandes feitos na administração pública. Com um currículo sólido e trânsito livre entre políticos influentes, seu nome ganhou força em Brasília.
Mas a história que Denise escreveria seria marcada não por realizações, e sim por tragédias, polêmicas e escândalos inesquecíveis.
Após anos atuando na Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo e na Casa Civil da Presidência da República, Denise ascendeu em 2006 a um dos cargos mais estratégicos do país: diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
O Brasil, naquele momento, precisava desesperadamente de liderança — mas encontrou o que muitos apontam como descaso, imprudência e soberba.
O Caos Aéreo e o Nome que Estampou a Tragédia
Sob a gestão de Denise, o sistema aéreo brasileiro entrou em colapso. Atrasos infindáveis, cancelamentos em massa, falta de infraestrutura e greves paralisaram o país.
O ápice do horror veio em 17 de julho de 2007, quando o voo TAM 3054 ultrapassou a pista molhada do Aeroporto de Congonhas e explodiu, matando 199 pessoas em um dos episódios mais trágicos da história nacional.
No centro das investigações estava ela: Denise Abreu.
Sob sua responsabilidade, a pista de Congonhas foi liberada sem as devidas ranhuras (o chamado "grooving"), fundamentais para evitar derrapagens em dias chuvosos.
Além disso, Denise foi acusada de apresentar documentos técnicos sem validade oficial à Justiça, numa manobra que permitiu o uso da pista em condições precárias.
Enquanto famílias choravam suas perdas, o país assistia, chocado, a imagens de Denise em festas, fumando charutos e esbanjando arrogância — gestos que a tornaram símbolo da insensibilidade diante da dor nacional.
Do Poder ao Abismo
Mesmo com a absolvição judicial em 2015 — por falta de provas conclusivas —, a opinião pública já havia condenado Denise Abreu.
A diretora que um dia foi aplaudida como técnica competente tornou-se um nome associado à morte, ao desrespeito e ao fracasso.
Tentando ressurgir, Denise aventurou-se na política: foi pré-candidata à presidência em 2014 pelo PEN, e à prefeitura de São Paulo em 2016, mas suas candidaturas naufragaram em meio à rejeição popular.
Em 2017, um novo escândalo: já como diretora do Departamento de Iluminação Pública da Prefeitura de São Paulo, Denise foi exonerada após o vazamento de áudios que sugeriam um esquema de corrupção em contratos milionários.
O Fantasma do Passado
Agora, em 2025, o nome de Denise Abreu volta a assombrar o país.
A série documental da Netflix "Congonhas – Tragédia Anunciada" revive cada momento do caos aéreo e expõe ao mundo a figura polêmica e decisiva de Denise Abreu.
Suas decisões, suas omissões e seu papel no drama que enlutou o Brasil são revisitados com detalhes estarrecedores, reabrindo feridas que nunca cicatrizaram por completo.
Hoje, afastada dos holofotes e dos cargos públicos, Denise assiste de longe a sua história ser julgada mais uma vez — não nos tribunais, mas no coração de um país que ainda pergunta:
"Quantas vidas poderiam ter sido salvas?"

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