Vivemos uma era em que a consciência humana está sendo moldada por forças que não compreendemos completamente, mas às quais nos entregamos com devoção. As redes sociais e as inteligências artificiais deixaram de ser ferramentas para se tornarem espelhos distorcidos — e, por vezes, moldes — da nossa psique. A promessa de conexão se transformou numa prisão invisível onde o cárcere é feito de notificações, curtidas e feeds infinitos.
O que antes era escolha virou impulso. O toque na tela já não é consciente: é automatismo, quase um reflexo condicionado. As inteligências artificiais, dotadas de uma habilidade quase sobre-humana de prever nossos desejos, alimentam incessantemente nossos vícios cognitivos. A cada deslize de dedo, entregamos fragmentos de nossa autonomia. E o mais assustador: fazemos isso com prazer.
O perigo está na sutileza. A colonização não é física, mas mental. Cada “scroll” é uma pequena concessão de poder, uma permissão silenciosa para sermos moldados. Já não buscamos conhecimento, buscamos estímulo. Já não cultivamos silêncio, ansiamos por ruído. A profundidade foi trocada pela superfície. Pensar dói; deslizar entretém.
Num futuro não muito distante — e talvez já estejamos nele — a humanidade pode perder o senso de si mesma. Quando algoritmos decidem o que vemos, sentimos e até pensamos, ainda somos livres? Ou nos tornamos apenas hospedeiros de um pensamento fabricado, repetido e empacotado?
A dependência não reside apenas na exposição, mas na ausência de reflexão. O perigo maior não é sermos vigiados, mas não percebermos que fomos vencidos.
Talvez estejamos à beira de um novo tipo de extinção: não a biológica, mas a da autonomia. A do pensamento crítico. A do humano que, olhando para dentro de si, percebia algo que nenhuma máquina poderia reproduzir — sua capacidade de contemplar o silêncio.
E se, no fim, a máquina não nos dominar pela força, mas pela conveniência?

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