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domingo, 26 de janeiro de 2014

A ultima moeda do tesouro

A cerimônia havia terminado, e agora todos deixavam a pequena capela. Homens e mulheres, todos vestidos em roupas caras e pretas, se espremendo enquanto saiam pelas portas da igrejinha.
Ali no meio de tudo aquilo, me sentia perdido como nunca. Olhava para todas aquelas pessoas, me perguntando quem seriam elas. Eu podia ter apenas oito anos naquela época, mas tinha a perfeita consciência de que um terço daquela gente nem conhecia meu pai.
Parte da multidão havia saído, quando, finalmente, pude avistar a peça principal sendo trazida por um grupo de homens de rostos tristes – os únicos ali, além de mim, que realmente se importaram um dia com quem estava dentro daquele caixão.
Eu não vou gastar o seu tempo – e nem o meu – discorrendo sobre como meu pai morreu. Afinal de contas, essa é uma história, acima de tudo, sobre a dor. E mortos não podem sentir nada disso. Mas, em defesa a memória de meu pai, eu devo dizer: As estradas eram péssimas naquela época, não se pode culpá-lo pelo o que aconteceu. Penso que, ainda que se ele estivesse sóbrio, não teria escapado. Ninguém teria.
Os homens carregavam o caixão, apoiando-o sobre os ombros. A dor daquela perda estava estampada em seus rostos. Mas, apesar dos olhos vermelhos de quem tinha chorado, tinham uma determinação feroz no olhar. Não sei explicar o que seria. Pairava um ar de respeito na expressão de cada um deles… Era como se aquilo fosse alguma espécie de honra.
Todos os estranharam fazendo aquilo. “Por que eles estão carregando o caixão daquele jeito?”, fofocava uma mulher gorda, no ouvido da amiga ao lado, “Pra que isso?”. Um outro senhor, elegantemente alinhado em um terno preto, meneava a cabeça, “Olha aquela cena” comentava ele, com um ar de desaprovação que me deu raiva, “Só podem estar querendo se exibir”
Lembro-me que senti vontade de chutar a canela daquele velho.
Eu conhecia aqueles homens que carregavam o caixão do meu pai. E digo mais: Eram os único ali que tinham dignidade o suficiente para isso. Os únicos amigos verdadeiros. Os únicos que compartilhavam a minha dor.
Talvez você ache que eu estou sendo insensível ou grosso. E sim, eu estou. Mas isso não me tira a razão. Você se surpreenderia com a quantidade de penetras e desconhecidos que aparecem em um enterro. Muita gente ali nem gostava do meu pai. De onde eu estava podia ver um ou outro rosto conhecido, e o resto eu nem conseguia imaginar de onde poderia ter saído. Alguns dos estranhos ainda tinham a cara de pau de se aproximar de mim, com aquelas sorrisos condescendentes que até eu pude notar o quanto eram forçados.
O caixão foi descendo cuidadosamente até pousar no fundo da cova. Uma mulher chorava copiosamente, com a cabeça descansando no peito de outro homem; Um velinho, de rosto gentil e olhos avermelhados, jogou uma flor, a qual não consegui identificar, para dentro da cova; Um grupo de adolescentes conversava e ria, como se nem tivessem noção de que estavam em um enterro. Provavelmente, nem conheciam meu pai. Deviam estar ali, simplesmente, por terem sido obrigados…
Senti raiva deles. Mas não por estarem rindo. Quando tudo aquilo acabasse, eles voltariam para casa com seus pais.  Talvez até parecem para um lanche rápido no caminho. E então iriam para casa e suas vidas seguiriam normalmente
Mas eu voltaria sozinho naquela tarde. E minha vida nunca mais foi a mesma.
Um homem alto e ofuscantemente careca começou a cantar uma musica, daquelas que se cantam em igrejas. Algumas pessoas o acompanharam, outras simplesmente desataram o choro. Aquilo tudo formava um coro de vozes melancólicas, entrecortado por um ou outro soluço de alguém.
Eu permaneci fitando a cova. Simplesmente encarava ela, com uma expectativa que ia crescendo no meu peito, uma ansiedade que me acelerou a respiração.
Não sei dizer, ao certo, porque senti aquilo. Talvez ainda não acreditasse que meu pai estava morto. Talvez esperasse que, a qualquer momento, ele pularia para fora daquela cova e me daria o abraço mais apertado do mundo.
Mas não aconteceu nada. Algumas pessoas disseram algumas palavras, e o coveiro começou a empurrar a terra para dentro. Com uma expressão tão impassível, que eu fiquei imaginando se ele fazia aquilo todos os dias.
O velho bateu de leve a pá na terra, que finalmente cobrira meu pai por completo, com um ar de “missão cumprida”.  A multidão começou a se dispersar. Eu fiquei parado.
Meu pai estava morto.

Um ou outro alguém passava por mim e dava um olhar de pena. “Eu sei o quanto é difícil o que você está passando”, todos eles repetiam, quase como se tivessem sido programados para isso. Como robôs.
Mas nenhum deles sentia a minha dor. Robôs não sentem nada.
O pior foi quando uma mulher se aproximou de mim. Ela vinha enxugando as lagrimas, num lencinho branco. Me fitou profundamente, com um olhar inconsolável. Como se tivesse sido ela a perder alguém. Cheguei até a pensar que aquela mulher poderia me entender.
Mas me enganei.
- Não se preocupe, garotinho – disse ela, dando uma fungada e enxugando o outro lado do rosto. – Seu pai está em um lugar melhor agora.
Eu sabia que ela estava tentando me consolar. Sabia que ela estava preocupada com o menininho que agora não tinha mais ninguém. Mas, “seu pai está em um lugar melhor”? Como assim? Para que pai, no universo inteiro, poderia existir um lugar melhor do que ao lado do filho?
Ele não estava em um lugar melhor. Estava morto.
Eu balancei a cabeça e tentei sorrir, mas não consegui. A mulher afagou meus cabelos, desceu a mão pela lateral do meu rosto, me acariciando com uma amabilidade tão reconfortante que me fez relembrar minha mãe. Segurou meu queixo por um segundo, me fitando. Em seus olhos, pude enxergar que ela sabia; não existiam palavras, nesse mundo, capaz me curar.
Sorriu para mim, como que dizendo que tudo ficaria bem, e então sem qualquer outra palavra ela se foi. Todos se foram. E eu continuava ali, olhando para as escrituras “Aqui jaz um bom homem”, gravadas na lapide de meu pai.
Estava perdido entre milhares de pensamentos, quando senti uma mão acolhedora pousar em meu ombro. Era meu tio, a única pessoa ali que eu realmente acreditava ser capaz de me entender.
Sinceramente, não consigo nem me imaginar sobrevivendo àquele dia, se não fosse a companhia do meu tio. Eu sentia um tipo de conexão entre nós. Ele havia perdido o irmão mais velho que sempre cuidara dele, e eu o pai que sempre cuidara de mim.
Ficamos em silencio por um tempo, olhando aquela lapide. Havia algo de solene naquele momento. E, apesar da ausência de qualquer palavra, podia sentir uma espécie de sintonia no ar. Como se o silencio nos unisse mais do que qualquer palavra jamais poderia.
Isso é algo que eu não poderia lhe explicar. Ou você viveu, ou nunca vai entender.
Meu tio soltou um suspiro:
- Garoto, não tenho a mínima idéia do que você tá sentindo. – Ele deslizou os olhos por todo o cemitério, contemplando as colinas verdes que se erguiam ao longe, pontilhadas por lapides e túmulos. – Esse lugar é grande. É bonito… –comentou. Em um tom tão distante, que eu fiquei me perguntando se ele estaria falando comigo.
Permaneci em meu silencio. Mas lembro-me de que a mão dele pousada em meu ombro trazia uma sensação reconfortante. Uma sensação parecida com a de encontrar um pedaço de madeira flutuando no meio do oceano; Algo em que se apoiar. Algo que lhe impeça de ser engolido pelo mar de uma vez por todas.
- Eu amava muito o seu pai. – Comentou o meu tio, pensativo. Franziu de leve o cenho, observando algo no horizonte. – Você amava ele?
A pergunta me pegou de surpresa. Mas é claro que eu amava o meu pai!
levantei a cabeça para meu tio e fiz que sim.
Ele sorriu suavemente e olhou para o céu.
- Hummm… Então talvez eu saiba o que você está sentindo agora.
E pronto. Foram essas as únicas palavra do meu tio. E após dizer-las, ele simplesmente se virou e saiu andando.
Você acha que ele foi frio? Ou que, talvez, ele deveria ter dito mais alguma coisa? Então, me perdoe, mas você não sabe muito sobre o que é consolar uma pessoa.
Em momentos como aquele em que eu estava, a ultima coisa de que precisava era de alguém usando aqueles discursos baratos, que todo mundo sempre usa em velórios; “Seu pai era um bom homem…”, “Você ainda tem a nós…”, “Sinto muito pela sua perda…”
Eu não precisava dessas palavras. Só precisava de alguém que realmente compartilhasse a minha dor.
Eu precisava saber que não estava sozinho naquilo.
- Martin! Vamos. – Pude ouvir a voz de meu tio me chamando ao longe. Não sei quantas vezes foram, mas me recordo que não respondi imediatamente. O tempo parecia estar correndo em outro ritmo, ao meu redor. Era como se eu tivesse sido deslocado para uma outra dimensão, lenta demais até mesmo para a velocidade do som.
Quando finalmente me virei e dei o primeiro passo, o que senti foi… Como descrever? Não existem palavras que expressem exatamente a sensação. Tudo o que posso dizer é que senti como se estivesse deixando tudo para trás. E a cada passo que dava para longe do tumulo do meu pai, mais me sentia como se estivesse abandonando algo importante. Me sentia estranhamente culpado. Estava fazendo exatamente aquilo pelo o que tantas vezes ele me repreendera.
“Não vire as costas pra mim rapazinho, eu sou seu pai”
Subitamente, estaquei. A voz me veio tão nitidamente aos ouvidos, que foi impossível não me virar.
Mas não havia ninguém. Só havia o tumulo. Só havia eu.
Se isso fosse uma história, eu diria que tudo ficou escuro ao meu redor. Diria que o céu era cinzento e que as nuvens se aglomeravam, escuras e densas, ameaçando o mundo com sua chuva e seus trovões. Diria que uma leve brisa soprou em meus cabelos e eu respirei fundo, deixando aquele ar limpo entrar nos meus pulmões e aliviar meu coração.
Mas isso não é uma história.
A verdade é que o Sol brilhava como nunca naquela tarde, iluminando um céu perfeitamente azul. Os pássaros faziam festa por entre as copas das arvoras, enchendo o ar de um burburinho agitado, como se rissem entre si. O dia estava lindo.
Era como se nada demais tivesse acontecido. E foi  que eu descobri a verdade que me moldou no que sou hoje: De fato, nada aconteceu. A vida seguia em frente, ao meu redor, completamente indiferente a minha dor ou qualquer coisa que eu estivesse sentindo naquele momento. Ela não só parecia, como verdadeiramente não dava a mínima para o garotinho que perdera o pai.
Naquele momento eu percebi o que eu era, o que a minha dor era: Um grão de areia num deserto, uma gota d’água no oceano, uma estrela em uma galáxia…
Era somente mais uma dor, em um mundo de dor.
Não me lembro do que o meu tio me disse quando abriu a porta do carro para que eu entrasse, mas me recordo do seu tom contido e preocupado. Talvez tenha sido a expressão no meu rosto. Ou melhor, a falta dela.
- Quer ir tomar um sorvete? – Perguntou ele, entrando no carro. Éramos só nos dois dentro do veiculo e, talvez numa tentativa de me animar, ele permitira que eu fosse no banco da frente, ao seu lado; Coisa que se fosse em outro ocasião me deixaria completamente empolgado – eu sempre ouvia um sonoro “não”, quando pedia para ir na frente. – mas agora simplesmente não tinha importância nenhuma.
- Acho que sim. – Respondi, e então virei o rosto para o outro lado. Aquelas foras minhas primeiras e únicas palavras durante todo aquele dia.
Meu tio girou a chave, e então houve o ronco do motor seguido pelo arranque leve do carro.
Durante todo o caminho permaneci com os meus olhos perdidos na paisagem que passava como um borrão pela janela. Eu nunca vou esquecer de tudo o que pensei naqueles minutos dentro do carro. Fiquei pensando nas palavras do meu pai – que vieram a ser suas ultimas – quando eu fora visita-lo no hospital. Ele estava tão fraco, que sua voz saia quase como um sussurro. Tive que me inclinar mais para ouvi-lo. Ele me prometeu que voltaria para casa. Sorriu da melhor maneira que a dor o permitiu, e me assegurou que não seria esse acidente que nos separaria. Disse que iria mudar, iria se recompor. Logo, logo, ele estaria em casa… O tempo iria passar, isso se transformaria em uma história do passado, e nós nem conseguiríamos imaginar como as coisas poderiam ter terminado errado.
Cerrei meus punhos e senti meus olhos arderem e se embaçarem, ao relembrar o que meu pai sussurrara naquela noite. Ao relembrar a promessa que nunca fora cumprida.
Vendo meu silencio, e talvez reparando na tensão do meu corpo, meu tio tentou puxar conversa comigo. Disse uma ou duas coisas, mas o silencio acabou se instaurando no ar novamente. Eu estava distante demais para responder a qualquer tipo de estimulo. Estava fora daquele mundo, viajando em minhas memórias. Estava em um picnic com minha família, em uma época em que o câncer ainda não havia tirado minha mãe de mim e feito meu pai mergulhar no alcoolismo. Me agarrava à essa lembrança, como se ela fosse tudo o que me restara; A ultima moeda do tesouro.
Quando a noite chegou, dormi sem nenhuma dificuldade. Talvez soasse mais verídico se eu dissesse que chorei no travesseiro durante horas, e que me virei de um lado para o outro tentando, em vão, encontrar o sono que parecia fugir de mim. Mas nada estaria tão longe da verdade. Aquele dia tinha me forçado a todos limites, e assim que entrei no quarto, simplesmente despenquei exausto na cama.
Quando acordei na manhã seguinte, meu tio me esperava na cozinha, com uma tigela de cereais e a televisão ligada em um desenho animado. Ele tentou conversar, comentando algo sobre o novo zoológico que abrira na cidade, mas eu simplesmente seguia com as colheradas do meu cereal, alheio a tudo ao me redor.
Fiquei assim durante um tempo. Uma semana, um mês… Não sei dizer ao certo. Mas aos poucos, a dormência foi passando, e, para minha surpresa, eu já era capaz de sorrir novamente – coisa que cheguei a pensar que nunca mais conseguiria.
Meu tio me matriculou em uma nova escola e comprou um carro, para que pudesse ir me buscar quando a aula acabasse. Nós visitamos o zoológico, os parques, assistimos filmes e seguimos vivendo como qualquer outra família. Meu tio até se casou com uma moça que conhecera, anos depois.
O tempo passou e, como quem cuida de um moribundo muito debilitado, pacientemente foi tratando de todos os meus ferimentos. A cada novo dia, a dor ia diminuindo, diminuindo, diminuindo… Até que hoje, tudo o que tenho de meu pai são lembranças mais amenas. Recordações de momentos simples e felizes, como quando ele me levou no parquinho, uma vez, e me empurrou no balanço.
Faz vinte anos que meu pai morreu.
A minha vida seguiu em frente. Hoje vivo com minha esposa e meus filhos, mas nunca me esquecerei dos anos em que passei com meu tio – que também tem seus próprios filhos agora. Ele foi a única pessoa que eu tinha no mundo durante muito tempo
Regularmente, nós dois visitamos meu pai no cemitério. Paramos em frente ao seu tumulo, contemplando os dizeres ali gravados, com o mesmo silencio solene de vinte anos atrás – é impressionante como existem momentos, na vida, em que nada fala tão alto quanto o silencio.
Hoje é dia 25, e, como de costume, meu tio me ligou pela manhã.
E aniversario do meu pai.
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O carro parou em frente ao cemitério. O lugar estava mais vazio do que de costume, não era muito frequente pessoas fazerem visitas assim, em dia de semana. Os dois homens desceram do veiculo e caminharam por entre os vários túmulos e arvores, até que encontraram o que procuravam. O mais jovem dos dois, se agachou e deslizou a mão pela lapide empoeirada, encontrando as escrituras, que antes estavam escondidas sob a camada de sujeira.
“Aqui jaz um bom homem…” repetiu consigo mesmo, como que aliviado por encontrar aquelas palavras ainda ali.
Não poderia haver um lugar melhor para o descanso eterno, pensou ele. O tumulo ficava exatamente em baixo de uma arvore, alta e imponente, cujas copas folhosas se estendiam acima de suas cabeças, guardando-os sob suas sombras protetoras, contra o Sol escaldante daquela tarde. O ar parecia mais fresco ali.
Ficaram a contemplar aquelas escrituras, emudecidos. O silencio sublinhava o farfalhar das folhas acima. A expressão estampada em seus rostos conferia um ar solene àquela ocasião. Como se aquelas fossem as ultimas honras a serem prestadas. Como se o mundo devesse algo àquele homem que descansava dentro do tumulo, más só os dois soubessem disso.
- Vou estar esperando no carro. – Disse o mais velho dos dois, após alguns minutos. Era um senhor ligeiramente idoso, de constituição frágil e cabelos brancos.
O mais jovem assentiu, com um sorriso.
- Tudo bem, tio. Eu já estou indo. – Disse ele, e voltou-se novamente para a lapide, em quanto o outro deixava o local.
O jovem continuava a observar a lapide, intrigado. As sombras das copas pareciam dançar no chão, ao sabor do vento. Lembranças adormecidas começavam a despertar em sua mente, e ele se sentia estranho.
Era curioso aquilo. “Como o tempo consegue fazer essas coisas?” Há exatamente vinte anos atrás, em uma tarde dolorosamente linda, ele estava parado ali naquele mesmo lugar, e todo o seu futuro parecia estar perdido. A vida era assustadoramente incerta, a única garantia que ele tinha era a de que estava completamente sozinho no mundo; Perdido para sempre.
No entanto… O tempo passara.
Um vago sorriso se insinuou nos lábios do homem. A vida havia seguido enfrente. E o que naquela época parecia o fim do mundo, agora não passava de uma lembrança remota. Os medos que um dia o atormentaram, agora eram apenas fantasmas. Um eco distante.
O rapaz não saberia dizer quantos minutos – ou horas – haviam passado desde que ficara a sós com a lapide. O tempo parecia se dilatar quando ele estava ali. Era como se uma esfera envolvesse aquele local e dentro dela o tempo e espaço obedecessem a outras leis.
- Martim, vamos! – Ele ouviu uma voz distante, vindo de algum lugar do infinito. Não saberia dizer quantas vezes fora chamado, quando finalmente seus sentidos pareceram despertar. Foi como se a voz tivesse estilhaçado a esfera e o agarrado pela gola da camisa, trazendo-o de volta.
Voltou-se para trás e viu o tio, alguns metros dali, esperando-o junto ao carro. Deu uma ultima olhada para o tumulo, e então sorriu levemente. Como quem dissesse até logo.
Mas, ao se virar e dar o primeiro passo, congelou.
“Não vire as costas para mim rapazinho, eu sou seu pai.”
Foi impossível não se voltar. E, apesar de estar sozinho, sentiu a pontada da vergonha. Só descobriu o que já sabia…
Não havia ninguém ali. Só havia o tumulo. Só havia ele.
Apenas o vento nas folhas



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