"Concedei-me, Senhor, a serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar..."
Aqui suplica-se por serenidade, não como simples ausência de conflito, mas como estado de alma em repouso diante do incontrolável. Na filosofia estoica, essa aceitação ecoa o conceito de amor fati — o amor ao destino —, um reconhecimento humilde de que há uma ordem superior ou misteriosa que escapa à nossa vontade.
Teologicamente, é um ato de entrega à Providência Divina, que vê além da nossa limitada visão temporal.
"...coragem para modificar aquelas que posso..."
Este trecho invoca a virtude da fortaleza, aquela que, segundo Tomás de Aquino, fortalece a alma para resistir ao mal e perseverar no bem.
É a coragem que nasce não da impulsividade, mas da consciência moral e do compromisso ético com a transformação pessoal e coletiva.
É o chamado do livre-arbítrio: se há algo que está ao meu alcance, que eu não me omita por medo, apatia ou vício.
"...e sabedoria para distinguir uma da outra."
Aqui se encontra o coração da oração.
A sabedoria — sophia, nos gregos — é mais que conhecimento: é discernimento espiritual.
É a arte de ler os sinais da vida com os olhos da alma.
Agostinho dizia que “o sábio é aquele que ama o eterno”; e neste ponto, a sabedoria é súplica por clareza, por visão penetrante, por discernimento entre a ação necessária e a aceitação inevitável.
Reflexão Final — Em tom filosófico-teológico
Essa oração, embora breve, é um mapa existencial. Ela se estrutura como um tripé:
- Aceitação do mistério;
- Coragem para a responsabilidade;
- Sabedoria como farol da consciência.
É, ao mesmo tempo, um grito de humildade e um ato de resistência contra o desespero.
É uma oração que reconhece a fragilidade humana, mas não se rende a ela — pelo contrário, busca transcendê-la por meio da comunhão com o divino e do cultivo das virtudes.
Nos caminhos do vício e da recuperação, essa oração torna-se um mantra de libertação, lembrando ao ser humano que há forças além dele — mas também há forças dentro dele, que, se bem guiadas, podem transformar a dor em sentido, a queda em aprendizado, a escuridão em luz.

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