Imagine São Paulo antes do burburinho dos carros, dos arranha-céus imponentes e do vai-e-vem incessante da metrópole moderna. Agora visualize colinas suaves, terrenos férteis e uma tranquilidade quase bucólica, no coração de uma cidade que estava apenas começando a despertar para o século XX. Essa é a São Paulo capturada na imagem rara de 1908, onde o Vale do Anhangabaú, hoje um dos centros nervosos da capital, ainda respirava um ar campestre — com plantações de chá à vista.
Sim, chá! Poucos sabem, mas o vale era uma área de vegetação densa e, por um período, abrigou pequenas plantações e hortas urbanas. No centro da cena, entre casas baixas e ruas ainda não totalmente urbanizadas, aparecem os talhões organizados que remetem a lavouras — um contraste quase surreal com o que conhecemos hoje.
Na época, São Paulo ainda era uma cidade em transição. A economia do café dominava o estado, mas o núcleo urbano começava a se expandir com os trilhos dos bondes, a chegada de imigrantes europeus e japoneses, e as primeiras obras de infraestrutura moderna. O Anhangabaú, que anos depois ganharia o icônico viaduto do Chá e se tornaria um cartão-postal da cidade, ainda era um vale com rios a céu aberto e áreas aproveitadas para cultivo.
As construções à direita da imagem mostram o início da verticalização tímida, enquanto ao fundo, no horizonte, é possível notar que a cidade ainda guardava o perfil de vila grande. É como se a fotografia fosse uma carta guardada no tempo, sussurrando: “Aqui tudo começou”.
Ver essa imagem hoje é como abrir uma janela para um universo paralelo. Um Anhangabaú sem concreto, sem trânsito, sem pressa. Uma São Paulo que ainda sonhava em se tornar gigante, e que, ironicamente, cresceu tanto que quase apagou da memória esse passado verdejante e produtivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário