Blog do Fabio Jr

O blog que fala o que quer, porque nunca tem culpa de nada.

Pesquise no Blogue:

Pesquisar este blog

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Os Pastores do Crepúsculo Escarlate

Ninguém ousava pisar nas margens do pântano de Karsmor após o pôr do sol. Diziam que o céu ali sangrava, que a terra chorava e que vozes antigas sussurravam em línguas esquecidas pelos homens. Mas quando a pequena Amara desapareceu, seu irmão mais velho, Elias, não pensou duas vezes: ele seguiria até o fim do mundo para trazê-la de volta.

A travessia começou ao cair da tarde, quando o céu começava a arder em tons vermelhos, como se o inferno estivesse prestes a romper os véus da realidade. As árvores apodrecidas, cobertas de musgo negro, se curvavam como se rezassem por misericórdia. O solo afundava sob os pés, encharcado de um lodo espesso e morno que parecia respirar.

Ao alcançar o coração do pântano, Elias viu.

Figuras...
Sombras.
Silhuetas alongadas com vestes rasgadas, como véus de luto soprados pelo vento. Olhos brancos brilhavam entre os rostos sem feições. Havia muitos. Parados. Observando. Esperando.

E então, eles começaram a andar.

Elias recuou, mas o pântano o prendia. Cada passo era mais difícil que o anterior. As sombras se aproximavam lentamente, com um silêncio ensurdecedor. A mais alta delas empunhava um cajado retorcido, que pulsava uma energia fúnebre, como o coração de um deus morto.

Foi então que Elias ouviu a voz. Baixa, mas firme, nas profundezas de sua mente:

“Os Pastores vieram... colhem o que foi esquecido. A menina é agora deles. E você... você ousou invadir o Crepúsculo Escarlate.”

Os olhos das criaturas se acenderam mais intensamente. Um redemoinho de névoa negra os envolveu, e Elias sentiu seu corpo ser puxado por mil mãos invisíveis. Tentou gritar, mas o som foi arrancado de sua garganta como se nunca tivesse existido.

E no instante final, quando seu olhar se perdeu no céu que agora ardia em vermelho profundo, ele viu. Amara. No centro do pântano. Pálida. Os olhos tão vazios quanto os deles. Ela segurava um cajado igual ao do pastor.

Ela era uma deles.


Dizem que, desde então, toda vez que o céu sangra sobre Karsmor, mais um é ceifado. E os Pastores do Crepúsculo Escarlate caminham... lentos, eternos, famintos.

Você pode ouvir os passos deles se escutar bem, ao entardecer.
Mas se ouvir... já é tarde demais.




Nenhum comentário:

Postar um comentário