- O que ela é sua?
- Ela não é nada minha. Apenas estamos juntos, temos filhos, dividimos a casa, a cama, as contas, fazemos planos e amor, realizamos projetos juntos.
- Então ela é a sua mulher!
- Não. Ela é mulher, mas não é minha. É dela mesma, mas decide estar comigo.
- Então é sua esposa!
- Também não. “Esposa” é uma antiga definição para algemas. E ela não está presa a mim. Está comigo pelo simples desejo de estar. Não temos contratos, apenas vontade. Não temos nenhuma obrigação de permanecer, o fazemos por desejo.
- Isso não é perigoso?
- Perigoso é uma pessoa se sentir obrigada a permanecer onde não deseja estar, fazer sexo por “dever” e sem empolgação, conviver sem amor, estar presa por interesses materiais, coerção social, familiar ou religiosa.
- Então, o que é família?
- Família é um grupo de pessoas com algum grau de parentesco, com ancestralidade comum.
- E os laços afetivos, não contam?
- Ah! Esses são os que realmente importam. Desde que sejam afetos como o amor e desejo recíprocos, em um ambiente de compreensão e cooperação num formato relacional, onde todos se sentem valorizados e beneficiados. De outro modo, restam o medo e a submissão. São relações de domínio. E toda vez que alguém se sente controlado, sente-se também humilhado e, nessa condição, nascem as aspirações de liberdade e vingança.
- Eu não vejo dessa maneira.
- Então você não vê! O olho só vê o que o cérebro é capaz de processar. Mentes trabalhadas para não pensar não ousam atravessar o limite das imposições. E, quando o fazem, sentem-se culpadas e pecadoras.
- Para mim, toda essa fala sua parece blasfêmia.
- É justamente essa a ideia. Sua fala revela o sucesso do condicionamento mental: evitar questionamentos e manter o velho padrão estabelecido. Para os controladores não importa se você é feliz, importa manter as aparências. Não importa que você sofra; desde que conserve as “boas práticas” do manual alienante, você estará em paz com sua imagem social. Ainda que você desenvolva transtornos mentais e doenças físicas, não tem problema, sorria e acene. Continue... Viva uma vida sem prazer, mutile seus sonhos, mas não dê desgosto à família. Tenha pesadelos, insônia e angústia. Ninguém precisa saber o que se passa entre quatro paredes. Além do mais, a indústria cosmética oferece excelentes corretivos para olheiras, os laboratórios farmacêuticos têm antidepressivos e ansiolíticos de última geração para todo mal-estar e a religião está aí para lhe dizer que você não está só.
-Autoria desconhecida
Nenhum comentário:
Postar um comentário