Extraído de: Mitos Sumérios e Acádios de Federico Lara Peinado.
Tradução: Diego Gavski.
Sargão pertencia a uma das muitas levas de imigrantes semitas que foram se instalando aos poucos na Suméria. A história do nascimento e da infância de Sargão é contada na "Lenda de Sargão", um texto sumério que afirma ser a biografia dele. As versões mais antigas estão incompletas, porém, fragmentos de textos posteriores dão o nome de seu pai como Lá’ibum.
Já um texto neoassírio do século VII a.C., que alega ser a autobiografia dele, narrada por ele mesmo, afirma que Sargão seria o filho ilegítimo de uma sacerdotisa. No relato neoassírio o nascimento e a infância de Sargão são descritos assim:
Eu sou Sargão, o poderoso rei, o rei de Acade.
Minha mãe foi uma alta sacerdotisa, a meu pai não conheci.
Os irmãos de meu pai amavam as colinas.
Minha cidade natal é Azupiranu, situada às margens do Eufrates.
Minha mãe, alta sacerdotisa, me concebeu, em segredo me deu a luz.
Me pôs em uma cesta de juncos, selando com peixes a abertura.
Me lançou no rio, que não se levantou contra mim.
O rio me levou até Akki, o jardineiro.
Akki, o jardineiro, me tomou por seu filho e me criou.
Akki o jardineiro me nomeou seu sucessor.
Enquanto eu era jardineiro, Ishtar me concedeu seu amor.
E exerci a realeza por cinquenta e seis anos.
Governei e regi o povo dos cabeças negras.
Com armas de bronze conquistei poderosos montes,
escalei as montanhas superiores;
por três vezes recorri aos países para lá do mar.
Minha mão conquistou Dilmun;
Subi até Der, a grande, e eu a conquistei,
Destruí Kazalu e (....)
venci a todo aquele que me foi hostil.
Qualquer monarca que me suceda,
se quer se considerar igual a mim,
por onde eu dirigi meus passos,
que ele dirija também os seus.
Que governe e reja o povo dos cabeças negras;
que conquiste poderosos montes com armas de bronze;
que escale as montanhas superiores;
que atravesse as montanhas inferiores;
que recorra aos países para lá do mar por três vezes;
que conquiste Dilmun com sua mão;
que suba até Der, a grande, e a submeta;
(...) de minha cidade, Acade (...)
O que se sabe e está registrado historicamente é que Sargão tornou-se um membro proeminente da corte real de Kish e depois de derrubar o rei local tomando o poder, partiu para a conquista do resto da Mesopotâmia. O vasto império de Sargão teria se estendido de Elam ao mar Mediterrâneo, incluindo toda a Mesopotâmia, partes dos atuais Irã e Síria, e possivelmente partes da Anatólia e da península Arábica. Governou a partir de uma nova capital, Acádia, situada na margem esquerda do Eufrates, que a “lista de reis sumérios” alega ter sido construída por ele. É interessante notar que até hoje não foram encontradas as ruinas da Acádia. Pode ser que outra cidade tenha sido construída em cima de suas ruinas, ou não. Apenas sua localização não foi ainda identificada.
Sargão ficou célebre por ter conquistado as cidades-estados sumérias, nos séculos XXIII a.C., tendo fundado a dinastia acadiana. Reinou por 56 anos. Ele é o primeiro dignatário da história que criou um império multiétnico governado a partir de um centro, sendo que a sua dinastia governou a Mesopotâmia por cerca de um século e meio (2334-2022 a.C.), com 18 reis.
A “Lista dos Reis Sumérios” relata: "Em Ágade (Acádia), Sargão, cujo pai era um jardineiro, o copeiro de Ur-Zababa, se tornou rei, o rei de Ágade, que construiu Ágade; ele governou por 56 anos." Esta citação na “Lista de Reis Sumérios” foi a base para a especulação feita por diversos acadêmicos, de que Sargão teria sido a inspiração para a figura bíblica de Nimrode que foi posteriormente incorporado à Bíblia.
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