O inferno de Tântalo repete a cena que determinou seu confinamento definitivo no imenso asilo de condenados que Hades, sob a terra, governa.
A cena passou-se no dia em que ele convidou os deuses, seus amigos, para um grande banquete em seu palácio.
Todos os imortais do Olimpo compareceram. Não imaginavam as más intenções de Tântalo, rei da Frígia, apesar dos inúmeros erros que cometera.
Uma vez, ele revelara a seus amigos mortais conversas que eram de exclusivo interesse dos deuses.
Em outra ocasião, roubara néctar e ambrosia para deliciar suas concubinas. E o cão de Zeus, que pedira emprestado a Hermes, Tântalo não se incomodava em devolver. Parecia até que esse abastado e irreverente senhor de terras estava querendo brincar com os deuses.
Perfumadas e fumegantes, as travessas de iguarias atravessam o salão em todas as direções. Criados engalanados colocam nos pratos dos divinos comensais enormes porções de carne rosada. Não percebem que, involuntariamente, se tornam cúmplices de um duplo crime.
Sente-se, porém, um clima de suspeita. O olhar de Tântalo trai intenções malvadas. Os imortais contemplam o prato, e não se movem. Apenas Deméter nada percebe. Com gesto delicado, serve-se de sua parte. Mas, ao provar o alimento, verifica tratar-se de carne humana: uma espádua.
Os deuses erguem-se indignados. É a última brincadeira do rei da Frígia. Brincadeira trágica demais: o corpo servido no banquete pertencia ao próprio filho do anfitrião.
Era um crime para a fúria implacável das Erínias.
Além de ser um desafio à paciência e à sabedoria dos imortais. Homicídio e sacrilégio. Punição: o Tártaro.
Para Tântalo, o inferno é um imenso lago. Com água até os joelhos, o condenado não pode saciar sua sede eterna, pois o líquido foge-lhe da boca, recusando-se a umedecer lhe a garganta. Com as árvores cobertas de frutas ao lado, não pode aplacar sua fome, pois os galhos escapam-lhe das mãos.
E Tântalo sonha com assados e néctares, dispostos numa grande mesa preparada para ele. Porém nunca poderá alcançá-los, por mais que se esforce.
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