Segundo o censo de 1872, apenas 2.309 eram judeus em uma população total de 10 milhões de habitantes no Brasil Império, no entanto, a influência dos Judeus Franceses, alemães e portugueses era notável na sociedade Brasileira da época.
A Presença dos Judeus no Brasil remonta aos Séculos XVI e XVII, porém foi só depois da Constituição de 1824, que a Pratica da Religião Judaica deixou de ser crime. O acordo Diplomático de 1825 que garantia a independência do Brasil de Portugal ocorreu com grande Influência do Barão de Rothschild poderoso Banqueiro Judeu da Inglaterra.
O rabino Isaac Amzalak que, chegando na Bahia em 1829, era conhecido inclusive pelo poeta Castro Alves que dedicou alguns poemas às suas filhas, (Hebreia) em quem se inspirou.
A relação do Imperador Dom Pedro II com o povo judeu ia muito além de seu interesse pelo idioma hebraico, que estudava intensamente. Inclusive parte de sua família, os Braganças tem ascendência hebraica, na história de Inês de Pirez, cristã nova e mãe do primeiro Duque de Bragança.
A Necrópole Israelita, no bairro da Soledade em Belém, é o primeiro cemitério israelita do Brasil, feito em 1842, marcando a presença definitiva do Judaísmo em Terras Brasileiras
A “Wallerstein Masset & Company” era provedora oficial da Casa Imperial. Seu dono, o judeu Bernard Wallerstein, conhecido como “o rei da moda”, encomendava em Paris cristais, porcelanas e outros objetos de decoração.
O dentista judeu, Dr. Samuel Eduard da Costa Mesquita (1837-1894), atendia D. Pedro II. Era casado com Mary Roberta Amzalak, filha mais moça de Isaac e Grazia Amzalak, uma das três graças eternizadas em “Hebreia”, belo poema de Castro Alves. O dentista morava em São Paulo e viajava até Campinas onde oficiava as rezas nas festas judaicas.
Alberto Henschel fotógrafo judeu alemão, trabalhou na Casa Imperial, e é considerado o mais diligente empresário da fotografia no Brasil do século XIX
O Judeu Húngaro Luís Mateus Maylasky, Visconde de Sapucaí, foi um Importante Industrial, Fundador da Estrada de Ferro de Sorocabana
O maestro Louis Moreau Gottschalk (1829-1869) chegou ao Rio de Janeiro para reger grandes concertos, alguns inclusive na presença do Imperador. Sua primeira apresentação, a “Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional” realizou-se em novembro de 1869.
Alexandre Levy (1864-1892) era filho de Henrique Luiz Levy, o fundador da “Casa Levy”, importante ponto de encontro dos artistas da época. Alexandre era um compositor romântico, sendo responsável por incorporar à música temas típicos do país, convertendo-se num verdadeiro precursor do movimento musical brasileiro de caráter nacionalista.
Francisco Leão Cohn, Comerciante da Rua do Lavradio, atendeu ao chamado nacionalista de Dom Pedro II e entrou nas fileiras da Guarda Nacional durante a Guerra do Paraguai. Ficou famoso por ter recebido a Bandeira do Batalhão das mãos do próprio Imperador.
O linguista alemão Christian Fredrich Seybold (1859-1921), foi um erudito que lecionou hebraico ao Imperador, chegou ao Brasil em 1887, atuou como correspondente da Real Academia de la Historia de Madri, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Arqueológica da França.
No teatro, as performances da atriz Sarah Bernhardt (1844-1923) eram tidas como incomparáveis. Filha de judia holandesa, a “Diva Sarah” começou a encenar no Teatro Odéon, e mais tarde representou dramas clássicos e românticos na Comédie Française. Sua primeira tournée pelo Brasil, em 1886, gerou grande agitação nos círculos sociais e acadêmicos. O preço dos ingressos para suas apresentações era bem elevado, mas as pessoas acotovelavam-se nas bilheterias para comprá-los. D. Pedro II convidou-a para visitar seu camarote, presenteando-a com uma pulseira de ouro.
Em 1887, uma delegação de judeus da Alsácia-Lorena, representando a comunidade judaica do Rio de Janeiro, foi recebida, em grande estilo, pelo imperador D. Pedro II no seu Palácio em São Cristóvão. O monarca surpreendeu a comitiva, falando- lhes em hebraico clássico. Registram as crónicas o embaraço daqueles judeus ao ouvir o Imperador falar na língua da Torá, e não compreenderem nada do que ele havia dito. Passada a surpresa, o imperador repreendeu-os: “Que judeus são vocês, que não compreendem a língua dos vossos antepassados?!”
Apesar do constrangimento, os visitantes saíram com uma boa impressão do Imperador, que a época já tinha fama de ser grande estudioso da Língua Hebraica: “Bem aventurados aqueles que viram D. Pedro II, Imperador do Brasil, e o ouviram falar na língua sagrada. Bem aventurados todos aqueles que o saudaram e foram por ele saudados” escreveu o rabino Israel Isser Goldblum, que visitou o Imperador em São Cristóvão. D. Pedro estudou hebraico durante toda a sua vida e quando foi deposto pelos republicanos em 1889 encontrou alívio para o seu sofrimento no exílio estudando línguas, aprofundando especialmente o conhecimento da gramática e da literatura hebraicas.
Em seu exílio escreveu D. Pedro um livro de gramática hebraica, em francês, e traduziu do hebraico para o francês a canção “Had Gadiá”, da Hagadá de Pessach , por entender que esta canção refletia a essência da justiça divina e seu poder sobre a vida e a morte. Traduziu também, de um jargão misto de hebraico e provençal, para o francês, três cânticos litúrgicos antigos (séc. XVI ou XVII), que costumavam ser entoados nas festas de Brit Milá e Purim por algumas comunidades na Provence.
Sobre estas traduções observou Sokolov:
“Nenhum de nossos homens de letras teve a idéia de salvar do esquecimento e da perda estas peças do folclore judaico, até que veio o imperador brasileiro e coletou-as, interpretou-as, traduziu-as e publicou-as, com total fidelidade aos originais”.
No livro que publicou com estas traduções, aduziu D. Pedro na introdução a história destas canções e seu valor literário, para que seus leitores pudessem captar a luminosidade oculta nos tesouros da literatura hebraica. No prefácio deste livro, declarou o monarca brasileiro seu amor pela língua hebraica e descreveu as sucessivas etapas de seu estudo, mencionando com reverência os nomes de seus professores de hebraico.
No fim de seus dias, D. Pedro II conheceu o rabino de Avignon, Benjamin Mossé, que lhe ofereceu uma tradução dos Salmos.
O rabino Mossé escreveu ainda uma biografia em francês sobre o monarca brasileiro. Que o descreveu como: "o mais puro modelo do verdadeiro patriotismo, do desinteresse, do amor à liberdade, da dedicação ao progresso"
Em carta a Pedro II (09/08/1890), diz: “Uma das mais belas retribuições de minha vida, será apresentar, como historiador francês, o maior dos modernos imperadores: D. Pedro II. Desejo que Vossa Majestade seja o primeiro a ler este livrinho que escrevi, quase todo, visando muito ao efeito que deve produzir, não só no estrangeiro, mas principalmente no Brasil”. particulares. Dom Pedro II era no entanto criticado pela filha Isabel pelo entusiasmo que às vezes demonstrava com a religião judaica e pensadores controversos, chegando até a visitar sinagogas em Londres e Paris:
"Por mais incognitozinho que vá, sempre se sabe quem é o Sr. D. Pedro de Alcântara, e não deve ser ele antes de tudo um bom católico e, portanto, afastar de si o que for imoral?" Escrevia a filha em advertência.
Fonte: Judaísmo na Corte de D. Pedro II por Reuven Faingold/ A história dos judeus no Rio de Janeiro. Henrique Veltman
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