Blog do Fabio Jr

O blog que fala o que quer, porque nunca tem culpa de nada.

Pesquise no Blogue:

Pesquisar este blog

sábado, 22 de março de 2025

William Barthore Robertson: O Inquisidor das Sombras


Prólogo: O Chamado de Deus

No início do século XX, em uma época de mudanças e conflitos morais no Brasil, surgiu um homem cuja presença era tão intensa quanto sua fé. William Barthore Robertson não era brasileiro de nascimento, mas sua cruzada seria travada nas ruas sombrias das cidades emergentes, onde a luxúria e o pecado se escondiam sob a luz amarelada dos lampiões a gás.

Nascido em 1867, na Escócia, Robertson era filho de um pastor presbiteriano rígido e de uma mãe submissa que via na religião a única salvação para a humanidade. Desde cedo, aprendeu que o mundo estava mergulhado no pecado e que era seu dever erradicá-lo. Ainda jovem, viajou para o Brasil como missionário, trazendo consigo um fervor implacável contra o que considerava as chagas da sociedade: a corrupção da carne e o comércio do prazer.

Em 1905, aos 38 anos, ele já era conhecido como um pregador fanático, um homem de olhar penetrante e palavras de fogo, que condenava a prostituição com tal veemência que seus sermões se tornaram temidos tanto por fiéis quanto por pecadores. Mas sua missão não se limitaria a palavras.

Ele queria ação. E para os inimigos de Deus, não haveria misericórdia.


A Caçada ao Pecado

São Paulo e Rio de Janeiro estavam em plena expansão. O café enriquecia barões, fábricas surgiam e o fluxo de imigrantes europeus trazia novas ideias e costumes, inclusive a prostituição organizada. Nos cortiços e becos escuros, bordéis prosperavam, financiados por cafetões inescrupulosos e frequentados por homens de todas as classes.

Para Robertson, aquilo era um câncer que precisava ser extirpado.

Seus primeiros alvos foram os próprios clientes. Casado? Então sua esposa saberia. Ele infiltrava-se nos prostíbulos, esgueirando-se pelos corredores e observando os rostos dos homens que se entregavam ao desejo. Anotava seus nomes, descobria seus endereços e, dias depois, suas esposas recebiam cartas detalhando as traições de seus maridos. O escândalo corroía famílias e gerava caos, e logo Robertson passou a ser temido pelos homens da alta sociedade.

Mas isso não bastava. As mulheres eram vítimas, dizia ele. Os verdadeiros demônios eram os exploradores.

Então, começaram as emboscadas.


A Justiça de Deus

Disfarçado, Robertson se apresentava como um investidor interessado em "expandir negócios" no ramo do entretenimento. Os cafetões, gananciosos e arrogantes, caíam em sua armadilha. Ele os atraía para encontros em locais isolados — uma igreja abandonada, um galpão escuro, uma cabana no meio do mato. Ali, revelava sua verdadeira identidade.

Vocês alimentam a perdição das almas! — Bradava, antes de desferir sua sentença final.

Os corpos eram encontrados boiando nos rios, com marcas de violência que sugeriam tortura. Alguns tinham palavras gravadas na pele com lâminas: "Pecado", "Traição", "Justiça". Outros simplesmente desapareciam, engolidos pelas sombras da cidade.

A polícia investigava, mas nada ligava os crimes a Robertson. Quem ousaria acusar um homem de Deus?


A Morte Misteriosa

Em 1912, quando sua cruzada já se tornara uma lenda urbana temida por cafetões e maridos infiéis, Robertson começou a ser seguido. Ele sabia. Sentia olhos sobre si, vultos na escuridão, sussurros que se dissolviam no vento.

Uma noite, ao sair da igreja onde pregava, recebeu uma carta anônima.

"Há um grande bordel na Rua das Almas Perdidas. Lá, as serpentes sussurram. Você deve vê-lo com seus próprios olhos."

Ele foi.

O lugar era diferente. Não havia risos femininos ou música alta. O salão estava vazio, exceto por uma única mulher. Alta, vestida de negro, um olhar frio e calculista.

William Barthore Robertson. — Ela sorriu. — Caçador do pecado, mas você próprio nunca pecou?

Antes que ele pudesse reagir, as portas atrás dele se fecharam. Sombras surgiram, homens de rostos ocultos pelo breu.

O que aconteceu naquela noite permanece um mistério.

Na manhã seguinte, o corpo de Robertson foi encontrado enforcado na torre de uma igreja abandonada, um símbolo de traição e ironia. Em sua boca, alguém havia colocado 30 moedas de prata.


O Legado do Inquisidor

Após sua morte, a polícia abafou o caso. Alguns diziam que foram os cafetões que finalmente se uniram contra ele. Outros, que foi um grupo de esposas traídas que não suportaram mais suas revelações. E havia aqueles que acreditavam que ele fora vítima de algo mais sombrio, um julgamento divino por ultrapassar os limites de sua missão.

A única certeza é que a prostituição não acabou. O pecado não foi extirpado.

Mas, por muitos anos, quando um bordel pegava fogo sem explicação ou um explorador desaparecia sem deixar rastros, alguém sussurrava nas ruas escuras:

William Barthore Robertson ainda caminha entre nós.




Nenhum comentário:

Postar um comentário