Capítulo 6 - O Sacrifício na Ruína
O cocheiro se levantou de súbito, o livro escorregando de suas mãos. O reflexo na janela desapareceu, mas a sensação de estar sendo observado permanecia.
Um arrepio subiu sua espinha quando um som ecoou pelo cômodo – um sussurro distante, vindo do corredor.
A vela sobre a mesa tremulou, e então, sem aviso, se apagou.
O breu tomou conta do ambiente.
Ele tateou a mesa, buscando qualquer coisa que pudesse usar como arma. Seu coração batia acelerado. Então, um facho de luz rompeu a escuridão: três velas acesas do lado de fora, guiando seu olhar para um arco em ruínas.
Não deveria haver nada ali.
Mas havia.
Lá fora, na neblina azulada, sombras se moviam entre as árvores.
O cocheiro respirou fundo e caminhou hesitante até a arcada. Ao cruzá-la, sentiu o ar gelado envolver seu corpo como um manto de morte.
E foi então que viu.
No centro da clareira, uma figura estava ajoelhada, com as mãos amarradas e a cabeça inclinada para frente. Seu cabelo escuro e desgrenhado escondia o rosto, mas ele reconheceu o casaco.
Antônio Mendes de Souza.
Antes que pudesse correr para ajudá-lo, um vulto encapuzado surgiu das sombras.
A lâmina brilhou na escuridão.
O cocheiro tentou gritar, mas o choque o paralisou.
A lâmina desceu, fria e certeira, cortando a garganta de Antônio.
O sangue jorrou como um rio negro sob a luz bruxuleante das velas.
O encapuzado ergueu o rosto. Seus olhos brancos e vazios encontraram os do cocheiro.
Ele sorriu.
E sussurrou:
— Você é o próximo.
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