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sábado, 1 de março de 2025

O segredo de Higienópolis - Capitulo 4

 

Capítulo 4 - O Guardião das Sombras

O cocheiro congelou. A voz era grave, profunda, parecendo vir de todas as direções ao mesmo tempo.

A figura emergiu da penumbra. Um homem envolto em um manto negro, capuz ocultando a maior parte do rosto, exceto pelos olhos — olhos que brilhavam como brasas brancas, iluminando a escuridão ao redor.

— Quem… quem é você? — a voz do cocheiro saiu trêmula.

O encapuzado deu um passo à frente.

— Você já me viu antes. Mas não se lembra.

O cocheiro sentiu o peso daquela frase. Seus dedos apertaram o anel no bolso, como se agarrar aquele objeto pudesse ancorá-lo na realidade.

— Eu… não entendo.

A figura soltou um suspiro baixo.

— Eu sou aquele que protege os segredos deste lugar. Sou aquele que impede que certas verdades sejam reveladas. Meu nome foi apagado há muito tempo. Mas uma vez… eu fui Antônio Mendes de Souza.

O sangue do cocheiro gelou.

O empresário desaparecido. O homem que todos acreditavam ter fugido. Aquele cujo anel agora ardia no bolso do cocheiro como um pedaço de ferro incandescente.

— Isso… isso é impossível! — gaguejou o cocheiro, recuando um passo.

Antônio Mendes de Souza inclinou a cabeça levemente, como se estudasse sua reação.

— Você sabe que não. Você estava lá na noite do meu desaparecimento. Você ouviu os gritos. Você sabe que eu não fugi.

As memórias vieram como um raio. O cocheiro se lembrou do carro preto, do corpo sendo arrastado, do grito abafado antes do silêncio mortal. Mas ele nunca contara a ninguém. Nunca ousara perguntar.

— Eles me trouxeram para esta casa — continuou Antônio. — Eu descobri o que não deveria. E quando tentei escapar… fui condenado a servir ao segredo.

— Servir? — a voz do cocheiro mal passava de um sussurro.

Antônio ergueu uma mão e apontou para a mesa.

— Olhe de novo os nomes nas cadeiras.

O cocheiro hesitou, depois lentamente virou a cabeça. O nome dele ainda estava lá. Mas agora, ao lado de outros nomes, nomes que ele reconhecia. Figuras influentes da cidade. Pessoas que haviam desaparecido misteriosamente ao longo dos anos.

E então, ele viu.

O nome de Antônio Mendes de Souza ainda estava ali. Mas agora… havia um novo nome abaixo do seu próprio.

Um nome que ele não conhecia.

E o pior: o espaço para novos nomes ainda não estava preenchido.

O cocheiro sentiu o coração disparar.

Ele entendia agora.

Alguém teria que ocupar o próximo lugar naquela mesa.

E talvez… fosse ele.




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