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sábado, 9 de março de 2024

As Mucamas do Brasil Império



"Com a Vinda da Corte Portuguesa em 1808 e o crescimento da Nobreza Brasileira, os criados domésticos em casas e sobrados urbanos se multiplicaram. Se para os homens pobres livres viver de pequenos serviços temporários era uma maneira de sobreviver, para as mulheres livres pobres tornar-se uma criada era uma maneira de conseguir alguma estabilidade, com abrigo, roupas, comidas e, eventualmente, remédios, fornecidos pela patroa. 


No Rio de Janeiro, em 1870, “71% das mulheres ativas eram criadas, o que significava 34 mil mulheres trabalhando como mucamas, pajens, amas-de-leite, cozinheiras, copeiras,arrumadeiras, carregadoras de água, lavadeiras, passadeiras e costureiras. Brancas e negras,livres ou escravas, elas trabalhavam juntas, exercendo atividades semelhantes.” Muitas eram escravas, outras, mesmo livres, trabalhavam por casa e comida. 


Em 1872, 2/3 das mulheres livres estavam empregadas no serviço doméstico na corte imperial. Em sua obra Proteção e obediência, a historiadora Sandra Graham, faz um estudo sobre patrões e criadas, onde diz quanto ganhava uma costureira, além de evidenciar um hábito comum nas famílias cariocas: a presença de costureiras residentes e livres . 


Uma costureira que morasse na casa esperava receber em torno de 60 reais para coser à mão e à máquina, enquanto uma lavadeira portuguesa pedia cerca de 52 reais pelos mesmos serviços. Uma doméstica, assim como uma mulher que ‘lave, carregue água, venda doces na rua’, ganhava o equivalente a oito e nove reais. Para amamentar bebês, as donas de casa pagavam às amas de leite os salários mais altos de todos:  o equivalente a 100 reais por mês, além de casa e comida.


As mucamas, escravas de dentro de casa, dedicadas à senhora e às crianças, deveriam quase que, necessariamente, saber costurar, ao menos o básico, como fazer barras de vestidos,pregar botões, realizar pequenos remendos. Machado de Assis notava que:  "Há de ser alguma patuscada, dizia ela, mudando a posição de um alfinete. Benedita, vê se a barra está boa. Está, sinhá, respondia a mucama de cócoras no chão" 


A manutenção cotidiana do domicílio foi uma das mais antigas e disseminadas formas de utilização do trabalho escravo no Brasil. 


O preparo e cozimento dos alimentos, o abastecimento de água, a dispensa dos dejetos em lugar apropriado, a vigilância das crianças, a confecção de utensílios de uso diário, a limpeza e a arrumação dos espaços eram funções realizadas nas mais diferentes casas da América Portuguesa e do Império, na grande maioria das vezes, por escravos africanos e seus descendentes. 


Com o recrudescimento do tráfico Atlântico de africanos na primeira metade do século XIX, o uso da mão de obra escrava em tarefas domésticas cresceu. Disseminada pelas diferentes camadas sociais do Império, era difícil se encontrar alguém que não possuísse ao menos um escravo. Nas cidades e em pequenas propriedades rurais, os cativos realizavam várias tarefas sem muita especialização, suprindo tanto os serviços de roça ou de rua, quanto os afazeres da casa. Contudo, em 1850, com o fim definitivo do tráfico, esta tendência foi revertida. 


Com a interrupção da entrada de mão de obra africana nos portos brasileiros, o preço da mesma aumentou de forma considerável e possuir escravos passou, cada vez mais, a ser privilégio de poucos. Pelo mesmo motivo, atividades econômicas com uma rentabilidade diminuta foram, gradativamente, se desfazendo de seus cativos através da venda dos mesmos para áreas produtoras em ascensão, sendo a principal delas o Vale do Paraíba cafeeiro, no centro sul. 


No que compete às áreas urbanas, tamanha alteração na geografia e nos números da escravidão ocasionou uma profunda mudança nos mundos do trabalho nas décadas de 1870 e 1880. No que compete à esfera doméstica, houve uma multiplicação das formas e contratos que pode ser comprovada pela variedade de anúncios de jornal recrutando ou oferecendo trabalhadores libertos ou cativos. Através desta e de outras fontes, historiadores perceberam que, com o encarecimento do preço dos escravos após 1850, houve um aumento das práticas de alugar cativos e contratar libertos para as funções de: lavadeiras, cozinheiras, mucamas, amas de leite, pajens, arrumadeiras, quituteiras, cocheiros, antes realizadas majoritariamente por escravos. 


fonte: Costureiras, mucamas, lavadeiras evendedoras: o trabalho feminino no século XIX. Joana de Moraes Monteleone









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