Do Berço da Promessa ao Fogo da Discórdia: A Raiz Bíblica e Histórica do Conflito entre Judeus e Muçulmanos

1. A Origem Familiar: Um Conflito de Herança

O conflito milenar entre judeus e muçulmanos não teve origem no ódio religioso, mas sim em uma divisão familiar relatada nas Escrituras Sagradas. A Bíblia e o Alcorão apontam para um mesmo ponto de partida: Abraão, patriarca respeitado por ambas as religiões.

Abraão: O Pai de Nações

• Na Bíblia Hebraica (Tanakh), especificamente em Gênesis 12, Deus chama Abraão (então Abrão) para ser o pai de uma grande nação:
  "Farei de ti uma grande nação, e te abençoarei..." (Gênesis 12:2).
• No Alcorão, ele é reconhecido como Ibrahim, exemplo de submissão a Deus (Allah):
  "Ibrahim não era judeu nem cristão, mas era monoteísta e submisso a Deus..." (Alcorão 3:67).

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2. Isaque e Ismael: Dois Irmãos, Duas Promessas

O Filho da Promessa: Isaque

• Deus promete a Abraão um filho com sua esposa legítima, Sara:
  "Porém, estabelecerei o meu pacto com Isaque, que Sara te dará neste tempo determinado no ano seguinte." (Gênesis 17:21).
• Isaque torna-se pai de Jacó (Israel), origem das 12 tribos de Israel — base do povo judeu.

O Primogênito: Ismael

• Ismael nasce de Agar, serva egípcia de Sara. Embora não seja o filho da promessa, Deus também o abençoa:
  "Também do filho da serva farei uma grande nação, por ser ele da tua descendência." (Gênesis 21:13).
• Ismael é considerado ancestral dos povos árabes, segundo tradições judaica, cristã e islâmica.

Esse é o ponto-chave:
Isaque é o filho da aliança (segundo a Bíblia);
Ismael, o filho da bênção, mas fora da aliança.

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3. A Perspectiva Islâmica: Ismael é o Herdeiro Espiritual

O Alcorão apresenta Ismael como o filho que acompanha Abraão no episódio do sacrifício — um papel atribuído a Isaque na Bíblia (Gênesis 22).

• "E quando o menino alcançou a idade de acompanhá-lo, ele disse: 'Ó meu filho, eu vi em sonho que te sacrificava; vê, pois, o que pensas.'" (Alcorão 37:102)
• Na tradição islâmica, Abraão e Ismael constroem a Kaaba em Meca, o lugar mais sagrado do Islã:
  "E quando Abraão e Ismael levantaram os alicerces da Casa..." (Alcorão 2:127)

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4. A Divergência Religiosa Cresce com o Tempo

Inicialmente, não havia ódio, mas duas narrativas paralelas. O cenário muda ao longo dos séculos:

Judaísmo

• Estruturado com base na Torá e nos profetas, afirma a aliança exclusiva com os descendentes de Isaque e Jacó (Israel).

Cristianismo

• Surge como uma ramificação do judaísmo, e logo se torna independente, centrado em Jesus como Messias.

Islã

• Surge no século VII, proclamando-se como retorno à fé original de Abraão.
• Considera o Alcorão como a correção das distorções das escrituras judaicas e cristãs.

“Este Alcorão não poderia ter sido produzido por outro além de Deus...” (Alcorão 10:37)

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5. O Elemento Político: Da Religião à Geopolítica

• A expansão islâmica no século VII levou ao domínio de Jerusalém e de territórios historicamente judaicos.
• Durante as Cruzadas, judeus e muçulmanos foram alvos do mesmo inimigo cristão.
• No século XX, o sionismo e a criação do Estado de Israel (1948) reacenderam disputas com árabes palestinos — a maioria muçulmana — culminando no conflito Israel-Palestina.

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6. Conclusão: Uma Ferida Familiar Tornada Guerra

O embate entre judeus e muçulmanos não nasceu de uma teologia intolerante, mas de uma rivalidade de linhagem, enraizada nas figuras de Isaque e Ismael.

"Dois irmãos, duas promessas. Um altar, dois destinos. E uma dor que ecoa até hoje."

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